O livro “The History of the Yorubas: From the Earliest Times to the Beginning of the British Protectorate”, escrito pelo Rev. Samuel Johnson e editado por Dr. O. Johnson, é uma das mais importantes obras sobre a história do povo iorubá. Publicado pela primeira vez no final do século XIX, o livro oferece um relato detalhado das origens, tradições, organização política e cultural de uma das maiores etnias da África Ocidental. Este artigo busca explorar os principais aspectos dessa obra, destacando sua relevância histórica e seu impacto na preservação das raízes culturais iorubás.
O Autor e Sua Motivação
O Rev. Samuel Johnson, um pastor da cidade de Oyo, dedicou grande parte de sua vida à pesquisa e documentação da história do povo iorubá. Sua motivação principal era preservar a riqueza cultural de sua etnia em um período marcado pela crescente influência colonial britânica e pela introdução de novas religiões e costumes, que ameaçavam apagar elementos fundamentais da história tradicional.
Johnson acreditava que, ao registrar a história dos iorubás, ele não apenas preservaria seu legado cultural, mas também fortaleceria a identidade de seu povo diante das transformações sociais impostas pelo colonialismo. Sua obra é, portanto, tanto um trabalho acadêmico quanto um ato de resistência cultural.
Os Iorubás: Uma História de Tradição e Resistência
O livro de Samuel Johnson inicia sua narrativa explorando as origens míticas dos iorubás, que remontam ao reino de Ifé, considerado o berço da civilização iorubá. Segundo a tradição, Ifé foi fundada por Oduduwa, uma figura central na mitologia iorubá, que é reverenciado como o ancestral comum de todos os iorubás. A obra também descreve como os reinos e cidades-estado iorubás, como Oyo, Ijebu e Egba, se desenvolveram ao longo dos séculos, cada um com sua própria estrutura política e militar.
Johnson dedica capítulos importantes ao poderoso Império de Oyo, que foi um dos maiores e mais influentes estados da África Ocidental antes do período colonial. Ele descreve como Oyo se tornou um centro de comércio e cultura, conectando os iorubás a outras regiões africanas e ao mundo atlântico. Também são abordadas as guerras internas e externas que moldaram o destino do império, incluindo o impacto do comércio de escravizados e as invasões dos fulas.
https://www.yorubafoundation.org.uk/
Religião, Cultura e Organização Social
Uma das contribuições mais valiosas do livro de Samuel Johnson é sua descrição detalhada da religião e cultura iorubá. Ele explora o papel dos orixás, divindades que representam forças da natureza e aspectos da vida humana, destacando sua importância na espiritualidade e no cotidiano do povo iorubá. Entre os orixás mais conhecidos estão Xangô (deus do trovão), Iemanjá (rainha dos mares) e Ogum (deus da guerra e da tecnologia). Essas tradições religiosas não apenas moldaram a vida espiritual dos iorubás, mas também influenciaram outras culturas ao redor do mundo, especialmente nas Américas, por meio da diáspora africana.
Além disso, Johnson descreve a organização social dos iorubás, que era baseada em uma estrutura hierárquica, com reis (os obas), conselhos de anciãos e líderes comunitários. Essa estrutura permitiu a formação de estados fortes e resilientes, mesmo em face de desafios externos.
O Impacto do Colonialismo
Rei Koko em sua canoa de guerra , London
Daily Graphic , 30 de março de 1895; retratando
o rei Frederick William Koko — antigo antagonista da Royal Niger Company
Um dos temas centrais do livro é o impacto do colonialismo europeu sobre os iorubás. Johnson descreve como a chegada dos britânicos e a imposição do protetorado mudaram drasticamente a organização política e cultural dos reinos iorubás. O autor critica a forma como os colonizadores desestabilizaram as estruturas tradicionais e introduziram novas formas de governança, muitas vezes ignorando as complexas dinâmicas locais.
Apesar disso, Johnson também reconhece alguns aspectos positivos da interação com os europeus, como a introdução da educação formal e o papel das missões cristãs. No entanto, ele enfatiza que esses benefícios não devem obscurecer os danos causados à identidade cultural e à autonomia política dos iorubás.
Legado da Obra
“The History of the Yorubas” é mais do que um relato histórico; é um testemunho do orgulho e da resiliência de um povo. A obra de Samuel Johnson continua a ser uma referência essencial para estudiosos da história africana, antropólogos e todos aqueles interessados em entender as raízes culturais dos iorubás. Além disso, seu trabalho é uma fonte de inspiração para a diáspora africana, que busca reconectar-se às suas origens e valorizar suas tradições.
No contexto contemporâneo, em que as culturas tradicionais enfrentam novos desafios, o livro de Johnson serve como um lembrete da importância de preservar a memória histórica e de valorizar as ricas contribuições dos povos africanos à história mundial.
Conclusão
A obra de Samuel Johnson é um marco na historiografia africana. Ao documentar de forma tão abrangente a história dos iorubás, ele assegurou que as gerações futuras pudessem compreender e celebrar a riqueza de sua herança cultural. Para nós do site Raízes do Culto, explorar esse livro é uma oportunidade de honrar as tradições dos iorubás e aprofundar o entendimento sobre como sua cultura moldou o mundo. Johnson nos ensina que conhecer o passado é fundamental para construir um futuro de orgulho e reconhecimento das nossas raízes.
Nosso grande Araba of Ota, Awori Kingdom Faniyi Babatunde se fez presente ao Brasil – São Paulo – Franco da Rocha – Egbe Alakoro Megege (Ile Ase Omoguian) para iniciações de Egbe – Egungun – Ifa, agrademos por todo seu ensinamentos que Eledumare te cubra de coisas boas. Asoju Àwó Marcelo Alban
A história, cultura, ancestralidade e religiosidade africana sempre estará aqui no raízes do culto
Por Luciano de Ọbalúwáiyé